terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Imanifesto Horizontal Aos Covardes ou O Estudo de Dois Corpos

Primeiro, um lugar que faça girar a cena
Um corpo escrito sobre outro corpo,
A divulgar as esculturas preservadas nos sujeitos
Os dois e o silêncio, o tempo como professor

Atinjo o óbvio obtuso das duas bocas
Assusto-me, evidências da minha morte!
Quem poderá, com um gesto,
Riscar a odisséia de vossas vidas?

Um corpo torna-se presença
Sob escombros fátuos do pensamento,
Cruzo ilhas férreas em cólicas de Gaia
No dia-a-dia Réia, digo rios (tempos)
Uno-me a ele através de seus gestos previsíveis,
Seus receios medíocres, suas plataformas castradas

Salivar seus indícios escusos,
No caos ácido da cidade entorpecida,
Faz-me sufocar o desejo e a selvagem figura.
Tento, mas não atinjo, seu vazio instaurador
- Do silêncio ou da morte do sentir?
Quem diz? Que importa quem fala?
Já disse alguém.

Nesse corpo, apenas sinto o neutro,
A opinião velada no insulto.
Eis o ser que se ausenta e teme-se,
Interrompe a imersão no acaso sexual

O neutro é a recusa do jogo e do amante,
É tornar-se ausência quando deveria tornar-se desastre,
É fechar o texto no abrir da página

Há um tal provincianismo do geo-narcisismo
Que enjoa-me as alegorias e as divagações sexuais
As metáforas edipianizam-se, apagadas aqui
Nesse solo, inútil presença riscada

Fazer o que há é tarefa de poucos
Lançar-se no abismo do devaneio sutil,
Tactear as vertigens taradas do acaso indisciplinador
Assinar, no próprio sexo,
As libertações casuais dos trajetos em revoluções.
Tarefa nobre, corajosa e ensandecida,
Suicida, às vezes, no gosto sul do olhar noturno!

- Eis que pressinto Dioniso se apossar do texto /sic/
Os dados, já no jogo estamos lançados!

O segundo corpo, ilustre filho da meta-noite,
Intersecciona o fundo branco da tela
Desembainha, pelo avesso do sexo,
As peles vestidas na estranheza do corpo calado.

Há fuligem nas chamas dos dedos – um texto,
Perscruta ecos e tintas nos lagos obscenos da dedicação.
Em irradiação volátil de afetos, traquina,
Confunde as formas num deserto de almas.
Diz ser parte Fausto, parte Orfeu e todo enigma
Uno-me a ele através de suas imagens e seus fantasmas.

Insinua-se como um rito errante,
Cênico nas dissimulações amorosas,
Faz delirar os homens de prazeres outros.
Sob as tábuas inscritas em seu cheiro tatuado,
O laço do amante entregue ao delírio!
Origens dispersas, talvez eternamente,
De saudosas orgias bacantes

Onde o corpo estranho levou meu texto?
Que importa? Há em mim muitos, sempre outros!
O corpo some e soma-se ao meu trajeto
Eis que somos um, e somos todos!
Viemos aqui por um motivo e sabemo-lo:
Dizer o inaudito sobre os corpos libertos,
Sobre as possíveis revoluções do mundo.
Somos, talvez por toda a eternidade,
Um espelho controverso de duas figuras quebradas.

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