segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Rum-Baco del Fuego



CLANDESTINIDADE EM TRANSES
RUM-BACO DEL FUEGO

Clã, destino, transas
Rio largo e largo a mão
na cara que nos insulta
A corja, a tribo suja a corda
Eu rôo as lâminas,
navalha-fúria que encena
a tal honra ofendida

Logo aqui,
No mar salgado Cuba
onde abri as pernas, as mãos eróticas
Aos afetos obscenos da escrita
o desejo mesclado
irado chico marijuanado

A proximidade dos espelhos,
As manchas sujas de Havanna
A máquina por escrever suores
causa-me tonturas, vertigens piores
uma trepada jogada à la sacana

Farta-me o ócio das virtudes ensolaradas
Escorrer pela praia os restos da noite rumbada, heia!

Alba nua, solo tuya
Transo as gralhas e abro-te a boca
em golpes mil da dita cuja
Miraflor ditadura
El cuerpo, el deseo

Sem ar aqui para nosotros del fuego,
Sem espaços para libertações na terra militante
Areia e mais areia de proibições por San Juan,
Lamas ideológicas a acorrentar gigantes
Sob o julgo da Revolução, um basta hiante!

A linguagem-máscara
mascara revolucionários
em insanos totalitários
Afogam-se aos montes em duchas frias
Os corpos riscados pelo silêncio que fatia

Tribo contra-revolucionária,
Ópios reacionários em devir do ego
corpo-fuligem, corpo-música
corpo-rumba orientado
Rum-Baco del Fuego

Traga-me um novo cigarro
Rum negrita, mira-me gajo
Interrompo a pélvis que se insinua na cintura
Esqueço as roucas vozes das rameiras em fissura
Por hora, em ramas de eucalipto o agarro
suspensas ou em lamas delgadas
agrestes urdiduras
Cuba

Caio Di Palma


"Se instauram em Cuba centros de detenção que funcionam como reais campos de concentração (Miraflor, El Morro e Ilha da Juventude) para dissidentes políticos, homossexuais, doentes mentais e qualquer um que 'vista calças mais justa'".
(Reinaldo Arenas - Antes do Anoitecer)

2 comentários:

  1. MARAVILHOSO!
    Posso pedir licença e completar meu texto sobre Cuba com o seu poema?
    Beijos.

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  2. Sinta-se à vontade, Mari! Beijos e até mais!

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